CARTA DO CHEFE SEATTLE
segunda-feira, 10 de março de 2014
A Carta do chefe Seattle, um manifesto de compreensão e de amor à natureza, aos
animais, aos seres humanos e ao ambiente planetário.
O discurso foi proferido em onze de março de 1854 pelo chefe das tribos indígenas pele vermelha Suquamish e Duwamish em uma grande reunião ao ar livre, em Seattle, estado de
Washington.
A reunião havia sido convocada pelo governador Isaac Ingalls Stevens para discutir a entrega ou
venda da terra natal dos índios para os colonos brancos.
Doc Maynard apresentou o
governador Stevens, que explicou
brevemente a sua missão que o governo dos Estados Unidos tentava convencer os
peles vermelhas a venderem suas terras para dar prosseguimento à ocupação do
território norte-americano com populações de imigrantes estrangeiros que
chegavam ao país.
Extraído de The Irish Press, publicado numa sexta-feira, 4 de
junho de 1976.
A proposta do governo dos EUA era instalar as
duas tribos em uma reserva indígena, oferecendo-lhes algumas garantias e
compensações.
Em seguida a essas apresentações, levantou-se o Cacique Seattle e começou a falar.
Ele pousou a mão sobre a cabeça do muito menor Stevens, e declamou com grande dignidade, por um período
prolongado, o seu discurso.
Com a sabedoria de um grande líder, o Cacique Seattle recomendou às suas tribos que fossem para a
reserva, pois sabia que não poderia resistir às armas de fogo, caso optasse
pelo confronto direto
No entanto, deixou, com seu profético discurso,
uma lição para as futuras gerações de todos os povos do mundo, uma lição que,
aparentemente, muito poucos aprenderam.
Em 1854, “O Grande Chefe Branco” (o presidente americano) em Washington fez uma oferta para “comprar” uma grande área
de território indígena e prometeu uma “reserva” para os índios peles vermelhas dos EUA.
A resposta do Chefe Seattle, aqui reproduzida na íntegra, tem
sido considerada uma das declarações mais belas e profundas já feitas sobre o
meio-ambiente:
“Como você pode comprar
ou vender o céu, o calor da terra?
A ideia é estranha para nós.
Se nós não somos donos da frescura do ar e do
brilho da água, como você pode
comprá-los?
Cada parte da Terra é sagrada para mim e o meu
povo.
Cada pinha brilhante, cada praia de areia, cada
névoa nas florestas escuras,
cada inseto transparente, zumbindo, é sagrado na
memória e na experiência de meu povo.
A energia que flui através das árvores traz
consigo a memória e a experiência do meu povo.
A energia que flui pelas árvores traz consigo as
memórias do homem vermelho.
Os mortos do homem branco se esquecem da sua
pátria quando vão caminhar entre as estrelas.
Nossos mortos nunca se esquecem desta bela
Terra, pois ela é a mãe do homem vermelho.
Somos parte da Terra e ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, os
cervos, o cavalo, a grande águia, estes são nossos irmãos.
Os picos rochosos, as seivas nas campinas, o
calor do corpo do pônei, e o homem, todos pertencem à mesma família.
Assim, quando o Grande Chefe em Washington manda
dizer que quer comprar nossa terra, ele pede muito de nós.
O Grande Chefe manda dizer que reservará para
nós um lugar onde poderemos viver confortavelmente.
Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos.
Então vamos considerar sua oferta de comprar a
terra.
Mas não vai ser fácil.
Pois esta terra é sagrada para nós.
A água brilhante que se move nos riachos e rios
não é simplesmente água,
mas o sangue de nossos ancestrais.
Se vendermos a terra para vocês, vocês devem se
lembrar de que ela é o sangue sagrado de nossos ancestrais.
Se nós vendermos a terra para vocês, vocês devem
se lembrar de que ela é sagrada, e vocês devem ensinar a seus filhos que ela é
sagrada e que cada reflexo do além na água clara dos lagos fala de coisas da
vida de meu povo.
O murmúrio da água é a voz do pai de meu pai.
Os rios são nossos irmãos e saciam nossa sede.
Os rios levam nossas canoas e seus peixes alimentam nossas crianças.
Se vendermos nossa terra para vocês, vocês devem
lembrar-se de ensinar a seus filhos que os rios são irmãos nossos, e de vocês,
e consequentemente vocês devem ter para com os rios o mesmo carinho que têm
para com seus irmãos.
Nós sabemos que o homem branco não entende
nossas maneiras.
Para ele um pedaço de terra é igual ao outro,
pois ele é um estranho que chega à noite e tira da terra tudo o que precisa.
A Terra não é seu irmão, mas seu inimigo e
quando ele a vence, segue em frente. Ele deixa para trás os túmulos de seus
pais, e não se importa
Ele seqüestra a Terra de seus filhos, e não se
importa.
O túmulo de seu pai, e o direito de
primogenitura de seus filhos são esquecidos.
Ele ameaça sua mãe, a Terra, e seu irmão, do
mesmo modo, como coisas que comprou, roubou, vendeu, como carneiros ou contas
brilhantes.
Seu apetite devorará a Terra e deixará atrás de
si apenas um deserto.
Não sei!
Nossas maneiras são diferentes das suas.
A visão de suas cidades aflige os olhos do homem
vermelho.
Mas talvez seja porque o homem vermelho é
selvagem e não entende.
Não existe lugar tranqüilo nas cidades do homem
branco.
Não há onde se possa escutar o abrir das folhas na primavera, ou o ruído
das asas de um inseto.
Aurora boreal em terras indígenas do norte da
América
Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não
entendo.
A confusão parece servir apenas para insultar os
ouvidos.
E o que é a vida se um homem não puder ouvir o
choro solitário de um curiango ou as conversas dos sapos, à noite, em volta de
uma lagoa.
Sou um homem vermelho e não entendo.
O índio prefere o som macio do vento lançando-se
sobre a face do lago, e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva de
meio-dia, ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois
todas as coisas compartilham o mesmo hálito – a fera, a árvore, o homem, todos
compartilham o mesmo hálito.
O homem branco parece não perceber o ar que
respira.
Como um moribundo há dias esperando a morte, ele
é insensível (ao seu próprio) mau
cheiro.
Mas se vendermos nossa terra, vocês devem se
lembrar de que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seus espíritos
com toda a vida que ele sustenta.
Mas se vendermos nossa terra, vocês devem
mantê-la separada e sagrada, como um lugar onde mesmo o homem branco pode ir
para sentir o vento que é adoçado pelas flores da campina.
Assim, vamos considerar sua oferta de comprar
nossa terra.
Se resolvermos aceitar, eu imporei uma condição
– o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Eu Sou um selvagem e não entendo de outra forma.
Vi mil búfalos mortos e apodrecendo na pradaria,
abandonados pelo homem branco que os matou da janela de um trem que passava.
Sou um selvagem e não entendo como o cavalo de ferro que fuma pode se tornar
mais importante que o búfalo, que nós só matamos para ficarmos vivos.
O que é o homem sem os
animais?
Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão do
espírito. Pois tudo o que acontece aos animais, logo acontece ao homem. Todas
as coisas estão ligadas.
Vocês devem ensinar a seus filhos que o chão sob
seus pés é as cinzas de nossos avós
Para que eles respeitem a terra, digam a seus
filhos que a Terra é rica com as vidas de nossos parentes.
Ensinem aos seus filhos o que ensinamos aos
nossos, que a Terra é nossa Grande Mãe.
Tudo o que acontece à Terra, acontece aos filhos
da Terra.
Se os homens cospem no chão, eles cospem em si
mesmos.
Isto nós sabemos – a Terra não pertence ao homem – o homem pertence à Terra.
Isto nós sabemos.
Todas as coisas estão ligadas como o sangue que
une uma família.
Todas as coisas estão ligadas.
Tudo o que acontece à Terra – acontece aos
filhos da Terra.
homem não
teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela.
O que quer que ele faça à teia, ele faz a si
mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus anda e fala com
ele como de amigo para amigo, não pode ficar isento do destino comum.
Podemos ser irmãos, afinal de contas.
Veremos.
De uma coisa nós sabemos e que o homem branco
pode um dia descobrir
– o nosso Deus (das tribos peles vermelha da América do Norte) é o mesmo Deus.
Vocês podem pensar agora que vocês O possuem
como desejam possuir nossa terra, mas vocês não podem fazê-lo.
Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual
tanto para com o homem vermelho quanto para com o branco (ou para o negro, o amarelo, não importa a cor da “vestimenta de pele”)
A Terra é preciosa para Ele, e danificar a Terra
é acumular desprezo por seu criador.
Os brancos também passarão, talvez antes de
todas as outras tribos.
Mas em seu desaparecimento vocês brilharão com intensidade, queimados
pela força do Deus que os trouxe a esta terra e para algum propósito especial
lhes deu domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho
Esse destino é um mistério para nós, pois não
entendemos quando os búfalos são mortos (em excesso), os cavalos selvagens são domados, os recantos secretos das
florestas carregados pelo cheiro de muitos homens, e a vista das montanhas
maduras manchadas por fios que falam.
Onde está o bosque?
Acabou.
Onde está a águia?
Acabou.
”É o fim dos seres (realmente) vivos e o começo da
sobrevivência.”
Extraído de The Irish Press, publicado numa sexta-feira, 4 de junho de 1976.
Permitida a reprodução desde que mantida a formatação
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