TERÇA-FEIRA, 19 DE
JUNHO DE 2012
– Medicina Bioenergética
Entrevista com o Dr. Jorge Carvajal, médico cirurgião da
Universidade de Andaluzia, Espanha, pioneiro da Medicina Bioenergética.
Em 10 de março de
2009.
Qual adoece primeiro: o corpo ou
a alma?
A alma não pode adoecer, porque é o que há de
perfeito em ti, a alma evolui, aprende.
Na realidade, boa
parte das enfermidades são exatamente o contrário: são a resistência do
corpo emocional e mental à alma.
Quando nossa personalidade resiste aos desígnios da
alma,
adoecemos.
Há emoções prejudiciais à saúde ?
Quais são as que mais nos
prejudicam ?
70 por cento das enfermidades do ser humano vêm do
campo da consciência emocional.
As doenças muitas vezes procedem de emoções não
processadas, não expressadas, reprimidas.
O medo, que é a ausência de amor, é a grande
enfermidade, o denominador comum de boa parte das enfermidades que temos hoje.
Quando o temor se congela, afeta os rins, as
glândulas suprarrenais,os ossos, a energia vital, e pode converter-se em
pânico.
Então nos fazemos de fortes e
descuidamos de nossa saúde ?
De heróis os cemitérios estão cheios.
Tens que cuidar de ti.
Tens teus limites,não vás além.
Tens que reconhecer quais são os teus limites e
superá-los,pois, se não os reconheceres, vais destruir teu corpo.
Como é que a raiva nos afeta ?
A raiva é santa, é sagrada, é uma emoção positiva,
porque te leva à autoafirmação, à busca do teu território, a defender o que é
teu, oque é justo.
Porém, quando a raiva se torna irritabilidade,
agressividade, ressentimento, ódio, ela se volta
contra ti e afeta o fígado, a digestão, o sistema imunológico.
Então a alegria, ao contrário, nos ajuda a permanecer saudáveis ?
A alegria é a mais bela das emoções, porque é a
emoção da inocência, do coração e é a mais curativa de todas,
porque não é contrária a nenhuma outra.
Um pouquinho de tristeza com alegria escreve poemas.
A alegria com medo leva-nos a contextualizar o medo
e a não lhe darmos tanta importância.
A alegria acalma os ânimos ?
Sim, a alegria suaviza todas as outras emoções,
porque nos permite processá-las a partir da inocência.
A alegria põe as outras emoções em contato com o
coração e dá-lhes um sentido ascendente.
Canaliza-as para que cheguem ao mundo da mente.
E a tristeza ?
A tristeza é um sentimento que pode te levar à
depressão quando te deixas envolver por ela e não a expressas,
porém ela também pode te ajudar.
A tristeza te leva a contatares contigo mesmo e a
restaurares o controle interno.
Todas as emoções negativas têm seu próprio aspecto
positivo.
Tornamo-las negativas quando as reprimimos.
Convém aceitarmos essas emoções
que consideramos negativas como parte de nós
mesmos?
Como parte para transformá-las, ou seja, quando se
aceitam, fluem, e já não se estancam e podem se transmutar.
Temos de as canalizar para que cheguem à cabeça a
partir do coração.
Que difícil!
Sim, é muito difícil.
Realmente as emoções básica são o amor e o medo
(que é ausência de
amor), de modo que tudo que existe é amor, por excesso ou
deficiência.
Construtivo ou destrutivo.
Porque também existe o amor que se aferra, o amor
que super protege, o amor tóxico, destrutivo.
Como prevenir a enfermidade ?
Somos criadores, portanto creio que a melhor forma é
criarmos saúde.
E, se criarmos saúde, não teremos que prevenir nem
combater a enfermidade, porque seremos saúde.
E se aparecer a doença ?
Teremos, pois, de aceitá-la, porque somos
humanos.
Krishnamurti também adoeceu de um câncer de pâncreas
e ele não era alguém que levasse uma vida desregrada.
Muita gente espiritualmente muito valiosa já
adoeceu.
Devemos explicar isso para aqueles que creem que
adoecer é fracassar.
O fracasso e o êxito são dois mestres e nada mais.
E, quando tu és o aprendiz, tens que aceitar e
incorporar a lição da enfermidade em tua vida..
Cada vez mais as pessoas sofrem de ansiedade.
A ansiedade é um sentimento de vazio, que às vezes
se torna um oco no estômago, uma sensação de falta de ar.
É um vazio existencial que surge quando buscamos
fora em vez de buscarmos dentro.
Surge quando buscamos nos acontecimentos externos,
quando buscamos muleta, apoios externos, quando não
temos a solidez da busca interior.
Se não aceitarmos a solidão e não nos tornarmos
nossa própria companhia, sentiremos esse vazio e tentaremos preenchê-lo com
coisas e posses.
Porém, como não pode ser preenchido de coisas, cada
vez mais o vazio aumenta.
Então, o que podemos fazer para
nos libertarmos dessa angústia ?
Não podemos fazer passar a angústia comendo
chocolate ou com mais calorias,ou buscando um príncipe fora.
Só passa a angústia quando entras em teu interior,
te aceitas como és e te reconcilias contigo mesmo.
A angústia vem de que não somos o que queremos ser,
muito menos o que somos, de modo que ficamos no “deveria ser”, e não somos nem uma
coisa nem outra.
O stress é outro dos males de nossa época.
O stress vem da competitividade, de que quero ser
perfeito, quero ser melhor, quero ter uma aparência que não é minha, quero
imitar.
E realmente só podes competir quando decides ser um
competidor de ti mesmo, ou seja, quando queres ser único, original, autêntico e
não uma fotocópia de ninguém.
O stress destrutivo prejudica o sistema imunológico.
Porém, um bom stress é uma maravilha, porque te
permite estar alerta e desperto nas crises e poder aproveitá-las como oportunidades
para emergir a um novo nível de consciência.
O que nos recomendaria para nos
sentirmos melhor com nós mesmos ?
A solidão.
Estar consigo mesmo todos os dias é maravilhoso.
Passar 20 minutos consigo mesmo é o começo da
meditação, é estender uma ponte para a verdadeira saúde, é aceder o altar
interior, o ser interior.
Minha recomendação é que a gente ponha o relógio
para despertar 20 minutos antes, para não tomar o tempo de nossas
ocupações.
Se dedicares, não o tempo que te sobra, mas esses primeiros
minutos da manhã, quando estás rejuvenescido e descansado, para meditar, essa
pausa vai te recarregar,
porque na pausa habita o potencial da alma.
O que é para você a felicidade ?
É a essência da vida.
É o próprio sentido da vida.
Estamos aqui para sermos felizes, não para outra
coisa.
Porém, felicidade não é prazer, é integridade.
Quando todos os sentidos se consagram ao ser,
podemos ser felizes.
Somos felizes quando cremos em nós mesmos, quando
confiamos em nós, quando nos empenhamos transpessoalmente a um nível que
transcende o pequeno eu ou o pequeno ego.
Somos felizes quando temos um sentido que vai mais
além da vida cotidiana, quando não adiamos a vida, quando não nos alienamos de
nós mesmos, quando estamos em paz e a salvo com a vida e com nossa consciência.
Viver o Presente.
É importante viver no
presente?
Como conseguir?
Deixamos ir-se o passado e não hipotecamos a vida às
expectativas do futuro quando nos ancoramos no ser e não no ter, ou a algo ou
alguém fora.
Eu digo que a felicidade tem a ver com a realização,
e esta com a capacidade de habitarmos a realidade.
E viver em realidade é sairmos do mundo da confusão.
Na sua opinião, estamos tão
confusos assim ?
Temos três ilusões
enormes que nos confundem:
Primeiro: cremos que somos um
corpo e não uma alma,
quando o corpo é o instrumento da vida e se acaba
com a morte.
Segundo: cremos que o sentido da
vida é o prazer, porém com mais prazer não há mais felicidade, senão mais
dependência..
Prazer e felicidade não são o mesmo.
Há que se consagrar o prazer à vida e não a vida ao
prazer.
Terceiro: ilusão é o poder;
desejamos o poder infinito de viver no mundo.
E do que realmente
necessitamos para viver?
Será de amor, por acaso?
O amor, tão trazido e tão levado, e tão caluniado, é
uma força renovadora.
O amor é magnífico porque cria coesão.
No amor tudo está vivo, como um rio que se renova a
si mesmo.
No amor a gente sempre pode renovar-se, porque
ordena tudo.
No amor não há usurpação, não há transferência, não
há medo, não há ressentimento, porque quando tu te ordenas, porque vives o
amor, cada coisa ocupa o seu lugar, e então se restaura a harmonia.
Agora, pela perspectiva humana, nós o assimilamos
com a fraqueza, porém o amor não é fraco.
Enfraquece-nos quando entendemos que alguém a quem
amamos não nos ama.
Há uma grande confusão na nossa cultura.
Cremos que sofremos por amor, porém não é por amor, é por paixão, que é uma variação do
apego.
O que habitualmente chamamos de amor é uma droga.
Tal qual se depende da cocaína, da maconha ou da
morfina, também se depende da paixão.
É uma muleta para apoiar-se, em vez de levar alguém
no meu coração para libertá-lo e libertar-me.
O verdadeiro amor tem uma essência fundamental que é
a liberdade, e sempre conduz à liberdade.
Mas às vezes nos sentimos atados a um amor.
Se o amor conduz à dependência é Eros.
Eros é um fósforo, e quando o acendes ele se consome
rapidamente em dois minutos e já te queima o dedo.
Há amores que são assim, pura chispa, embora essa
chispa possa servir para acender a lenha do verdadeiro amor.
Quando a lenha está acesa, produz fogo.
Esse é o amor impessoal, que produz luz e calor.
Pode nos dar algum conselho para
alcançarmos o amor verdadeiro?
Somente a verdade.
Confia na verdade; não tens que ser como a princesa
dos sonhos do outro, não tens que ser nem mais nem menos do que és.
Tens um direito sagrado, que é o direito de errar;
tens outro, que é o direito de perdoar, porque o erro é teu mestre.
Ama-te, sê sincero contigo mesmo e leva-te em
consideração.
Se tu não te queres, não vais encontrar ninguém que
possa te querer.
Amor produz amor
Se te amas, vais encontrar amor.
Se não, vazio.
Porém nunca busques migalhas, isso é indigno de ti.
A chave então é amar-se a si mesmo.
E ao próximo como a ti mesmo.
Se não te amas a ti, não amas a Deus, nem a teu
filho,
porque estás apenas te apegando, estás condicionando
o outro.
Aceita-te como és; não podemos transformar o que não
aceitamos, e a vida é uma corrente permanente de transformações.
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