As cinco dimensões da educação
A educação que prevaleceu no passado é bastante insatisfatória,
incompleta,
superficial.
Ela só cria pessoas que conseguem ganhar o seu sustento, mas não dá a elas uma
visão sobre a vida em si.
Ela não só é incompleta como é prejudicial também — porque é baseada na competição.
Qualquer competição, no fundo, é violenta e cria pessoas pouco
amorosas.
Todo o esforço é para que sejam conquistadoras — de renome, de
fama,
de todos os tipos de ambições.
Obviamente elas terão que lutar e entrar em conflito para fazer essas
conquistas.
Isso destrói sua alegria e sua afabilidade.
Parece que todo mundo está brigando contra o mundo inteiro.
A educação até agora tem sido voltada para o cumprimento de objetivos:
o que você aprende não é importante: o importante é o exame que você fará um
ano ou dois anos depois.
Ele torna o futuro importante — mais importante do que o presente.
Ele sacrifica o presente em prol do futuro.
E isso se torna o seu próprio estilo de vida; você está sempre
sacrificando o momento por algo que não está presente. Isso cria um imenso
vazio na vida.
Na minha visão, a educação terá cinco dimensões.
Antes de começar a tratar dessas cinco dimensões, algumas
coisinhas precisam ser mencionadas.
Uma é que não deverá haver nenhum tipo de exame como parte da
educação, mas uma observação diária, feita de hora em hora, por parte dos
professores.
Essas observações feitas ao longo do ano decidirão se o aluno
deverá ou não permanecer na mesma classe.
Ninguém fracassa, ninguém passa — a questão é
apenas que algumas pessoas são mais rápidas e outras são um pouquinho mais
preguiçosas.
A ideia de fracasso cria uma ferida profunda de inferioridade, e
a ideia de ser bem-sucedido também cria um tipo diferente de doença: a da
superioridade.
Ninguém é inferior e ninguém é superior.
A pessoa é simplesmente ela mesma, incomparável.
Portanto, não haverá espaço para exames. Isso mudará toda a
perspectiva do futuro para o presente.
O que você está fazendo neste momento será decisivo, e não cinco
perguntas no final de cada ano.
O aluno passará por milhares de coisas a cada ano e cada uma
delas será decisiva.
Por isso a educação não será voltada para os exames.
O professor ocupou um papel de imensa importância no passado,
pois ele sabia que tinha passado em todos os exames, tinha acumulado
conhecimento.
Mas a situação mudou — e esse é um dos problemas: a situação mudou, mas nossas
respostas continuam as mesmas.
Agora a explosão de conhecimentos é tão grande, tão imensa, tão
rápida, que você nem pode escrever um livro muito extenso sobre nenhum tema
científico, porque quando o livro estiver completo já estará ultrapassado; novos fatos,
novas descobertas, terão tornado o seu livro irrelevante.
Agora a ciência precisa depender de artigos, de periódicos, não
de livros.
O professor se formou trinta anos atrás.
Em trinta anos tudo mudou, e ele vai repetir o que lhe
ensinaram.
Ele está ultrapassado, está tornando os seus alunos
ultrapassados.
Portanto, na minha visão, a velha ideia de professor não tem
lugar.
Em vez de professores, haverá orientadores, e é preciso
entender a diferença: o orientador lhe dirá em que lugar da biblioteca é
possível encontrar as últimas informações sobre um assunto.
O ensino não deverá ser administrado da maneira antiga, pois a televisão pode
fazer isso de um jeito melhor, pode trazer as últimas informações sem nenhum problema.
O professor precisa atrair os seus ouvidos; a televisão atrai os
seus olhos e o impacto é muito maior, pois os olhos absorvem oitenta por cento
das situações da vida
— eles são o mais vivo de todos os seus sentidos.
Se você puder ver algo, não há necessidade de memorizar nada;
mas, se ouvir algo,
precisará memorizar isso.
Quase noventa e oito por cento da educação pode ser administrado
pela televisão; e as perguntas dos alunos poderão ser respondidas pelo
computador.
O professor deve ser apenas um guia para mostrar o canal certo, para mostrar
como usar o computador para encontrar o livro mais atual.
Sua função será completamente diferente.
Ele não transmitirá conhecimento, só tornará o aluno consciente
do conhecimento contemporâneo, do conhecimento de vanguarda.
Ele é só um orientador.
Com essas considerações, eu divido a educação em cinco
dimensões.
A primeira é informativa, como história, geografia e muitas outras matérias que podem ser
administradas por meio da televisão e do computador.
A segunda parte deve ser as ciências.
Elas podem ser administradas pelo computador e pela televisão
também, mas são mais complicadas e o orientador será mais necessário.
Na
primeira dimensão também estão as línguas.
Todas as pessoas do mundo deverão aprender pelo menos duas
línguas; uma é o seu idioma natal e a outra é o inglês, como veículo
internacional de comunicação.
Elas também podem aprender línguas com mais eficácia por meio da
televisão
— a pronúncia, a
gramática, tudo pode ser ensinado mais corretamente pela televisão do que
por meio de professores individuais.
Podemos criar no mundo uma atmosfera de fraternidade: a língua
conecta pessoas e também as desconecta.
Não existe atualmente nenhum idioma internacional.
Isso se deve aos nossos preconceitos.
O inglês é perfeitamente apropriado, porque é
conhecido por mais pessoas ao redor do mundo em escala mais ampla — embora não seja
a língua falada pela maioria das pessoas.
A primeira é o espanhol, no que diz respeito ao número de
pessoas.
Mas a população que fala espanhol está concentrada e não
espalhada por todo o mundo.
A segunda é o chinês, e é ainda mais concentrada; só é falada na China.
Essas são as línguas faladas pelo maior número de pessoas, mas a
questão não é o número, mas o quanto são disseminadas no mundo todo.
O inglês é a língua mais difundida mundialmente, e as pessoas precisam deixar
de lado o preconceito — elas precisam ver a realidade.
Houve muitos esforços para criar línguas que evitassem
preconceitos — os espanhóis podem dizer que a língua deles deve ser a língua internacional
porque é falada por um número maior de pessoas.
Para evitar essas disputas, foram criadas línguas como o
esperanto.
Mas as línguas não criadas também dão certo.
São poucas as coisas que crescem, que não podem ser criadas; e a língua é algo
que se desenvolve ao longo de milhares de anos.
O esperanto parece tão artificial que todos os esforços de
implantá-lo fracassaram.
Mas é absolutamente necessário criar duas línguas — primeiro a
língua natal,
porque existem sentimentos e nuanças que você só pode expressar
na sua língua natal.
Um dos meus professores, o senhor S. K. Saxena, viajava pelo mundo todo e foi professor de filosofia em muitos
países.
Ele costumava dizer que você pode falar tudo numa língua
estrangeira, mas quando se trata de brigar e de amar, você sente que não está sendo
sincero e verdadeiro com relação aos seus sentimentos.
Por isso, quando se trata dos seus sentimentos e da sua
sinceridade, a sua língua natal... que você bebeu com o leite da sua mãe, que
se tornou parte do seu sangue e dos seus ossos.
Mas isso não é suficiente, pois faz surgir pequenos grupos de pessoas e torna as outras
estrangeiras.
Uma língua internacional é absolutamente necessária como base para um
mundo unificado, uma só humanidade.
Por isso duas línguas são absolutamente necessárias para todos.
Isso faz parte da primeira dimensão.
A segunda é a pesquisa de assuntos científicos, o que é
extremamente importante,
pois a ciência corresponde à metade da realidade, ou seja, a
realidade externa.
E a terceira será o que falta atualmente na educação: a arte de viver.
As pessoas acham que sabem o que é amor.
Elas não sabem... e, quando descobrem, é tarde demais.
Toda criança deveria receber ajuda para aprender a transformar
sua raiva, seu ódio,
seu ciúme, em amor.
Uma parte importante da terceira dimensão também deveria ser o senso de humor.
Nossa assim chamada educação faz com que as pessoas fiquem
tristes e sérias.
Se um terço da sua vida é gasto numa universidade, em ser triste
e sério, isso fica enraizado.
Você se esquece da linguagem do riso — e a pessoa que se esquece
da linguagem do riso se esqueceu muito da vida.
Portanto, o amor, a risada e o conhecimento da vida e das suas maravilhas,
seus mistérios... os passarinhos cantando nas árvores, não deveriam passar
despercebidos.
As árvores e as flores e as estrelas precisam ter uma conexão
com o coração.
O nascer do sol e o pôr do sol não são apenas coisas externas,
eles são internos também.
A reverência à vida deve ser a base da terceira dimensão.
As pessoas não têm reverência nenhuma pela vida.
Elas ainda continuam matando animais para comer — chamam isso de
"jogo".
E, se os animais as comem, elas chamam isso de calamidade!
Estranho... num jogo, ambas as partes devem ter oportunidades
iguais.
Os animais não têm armas e você tem revólveres ou flechas.
Você pode não pensar sobre a razão por que os revólveres e as
flechas foram inventados — pois foi para que se pudesse matar os animais de uma
distância maior;
chegar muito perto é perigoso.
Que tipo de jogo é esse?
E o pobre animal: indefeso contra as balas...
Não se trata de uma questão de matar os animais; é uma questão
de não ter reverência pela vida, pois tudo de que você precisa pode ser obtido
por meio de suplementos nutricionais ou por outros métodos científicos.
Todas as suas necessidades podem ser satisfeitas; nenhum animal
precisa ser morto.
E uma pessoa que mata
animais, lá no fundo pode matar seres humanos sem qualquer dificuldade, pois
qual é a diferença?
Uma grande reverência pela vida deve ser ensinada, pois vida é
Deus e não existe outro deus que não seja a própria vida, e a alegria, o
riso, o senso de humor — em resumo, um espírito dançarino.
A quarta dimensão deve ser das artes e da criatividade: pintura, música,
artesanato, cerâmica, alvenaria, qualquer coisa que seja criativa.
Todas as áreas da criatividade devem ser permitidas: os alunos podem
escolher.
Só algumas poucas coisas devem ser obrigatórias — por exemplo,
uma língua internacional; uma certa capacidade para ganhar o próprio sustento; uma
determinada arte criativa.
Você pode escolher a partir de uma ampla paleta de artes
criativas, pois, a menos que a pessoa aprenda a criar, ela nunca se tornará uma
parte da existência, que é constantemente criativa.
Sendo criativa, a pessoa é divina; a criatividade é
a única prece.
E a quinta dimensão deve ser a da arte de morrer.
Nessa quinta dimensão estarão todas as meditações, de modo que
você possa saber que a morte não existe, que você possa se tornar consciente de que
há uma vida eterna dentro de você.
Isso deve ser absolutamente essencial, pois todo mundo tem que
morrer; ninguém escapa disso.
E, sob o amplo termo genérico da meditação, você pode ser
apresentado ao Zen, ao Tao, ao
Yoga, ao Hassidismo, a todos os tipos e a todas as possibilidades que existem, mas
que hoje não são incorporadas à educação.
Nessa dimensão, você também deve aprender que existem artes marciais como o aikido, o jiu-jitsu, o judô — a arte de autodefesa sem armas — e
não só de autodefesa, mas também de meditação, simultaneamente.
Teremos uma educação completa, integral.
Tudo o que é essencial deve ser compulsório, e tudo o que é não
essencial deve ser opcional.
A pessoa pode lazer suas opções, que serão muitas.
E, depois que o básico for preenchido, então você precisa
aprender algo de que gosta: música, dança, pintura — você tem que saber algo que o leve ao seu interior,
a se conhecer.
E tudo isso pode ser feito muito facilmente, sem nenhuma
dificuldade.
Eu mesmo fui professor e me demiti da universidade com a
seguinte nota:
Isso não é educação, é uma completa estupidez; vocês não estão
ensinando nada de significativo.
Mas essa educação insignificante prevalece no mundo inteiro.
Ninguém busca uma educação mais completa, integral.
Nesse sentido, quase todo mundo é pouco instruído; mesmo aqueles que
têm muitos diplomas são pouco instruídos nas áreas mais vastas da vida.
Alguns não são instruídos, muitos são pouco instruídos — mas ninguém tem
instrução realmente.
Mas encontrar uma pessoa instruída é impossível, pois a educação
como um todo não existe em lugar nenhum.
Osho, em "Transformando Crises em Oportunidades:
O Grande Desafio Para Criar um Futuro Dourado Para a
Humanidade"
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