AS NECESSIDADES EDUCACIONAIS DE CRIANÇAS COM ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO
(OU ÍNDIGOS)
domingo, 29 de junho de 2014
Primeiramente, há que se retomar aqui a lembrança
de que cada indivíduo é peculiar em suas características e em suas expressões.
Assim, embora hajam aquelas que são compartilhadas
por grande parte das crianças dotadas de altas habilidades/superdotação,
existem outras características, a serem estudadas individualmente e conhecidas
em suas peculiaridades e especificidades.
Assim, é de extrema importância que não se coloquem
rótulos genéricos, nem se teçam conclusões guiadas categorialmente, mas sim,
que a família e a escola se unam, para avaliar, individual e cuidadosamente, a
cada criança, na busca de identificação de sua expressão no processo de
aprendizagem, bem como das necessidades educacionais que apresenta: tanto as
comuns, como as possivelmente especiais.
Pais, professores e profissionais de áreas
especializadas devem trabalhar cooperativamente, no processo de
avaliação compreensiva da criança que apresenta sinais de altas
habilidades/superdotação, já que o objetivo principal de uma avaliação é
identificar o conjunto de necessidades educacionais da criança, como elemento
de essencial importância para a elaboração do planejamento do ensino.
Os pais podem contribuir com dados obtidos através
de observação das expressões e potencialidades da criança no ambiente doméstico
e social.
Os professores e demais educadores envolvidos, por
sua vez, também contribuem com dados levantados através da observação do
processo de aprendizagem do aluno,
de sua participação nas atividades da sala de aula,
bem como nas diferentes atividades do cotidiano escolar.
Existem inventários e outros instrumentos
norteadores da observação, que podem facilitar a tarefa do professor.
A síntese dessas informações permite a
identificação pontual das habilidades e competências apresentadas pelo aluno,
bem como sinaliza suas necessidades, na direção do que é necessário para a
utilização do máximo de seu potencial, de forma construtiva e enriquecedora
para seu desenvolvimento, para sua aprendizagem e sua formação enquanto pessoa
e ser social.
As necessidades educacionais de
crianças com altas habilidades/superdotação
Para responder às necessidades educacionais
especiais das crianças com altas habilidades/superdotação, é importante que
família e escola trabalhem cooperativamente, compartilhando esforços e informações.
RECOMENDAÇÕES AOS PAIS
É importante que os pais entendam que a
superdotação pode ocorrer em uma ou algumas das diferentes áreas de
competência, como por exemplo, memória, raciocínio lógico, raciocínio abstrato,
administração da vida prática, capacidade de informação,
capacidade de liderança, capacidade de comunicação
verbal, etc.
É importante, também, que entendam que o fato de
seu filho, ou filha, apresentar uma característica atípica em alguma(s) dessas
funções não significa que assim também o seja em todas as demais áreas de seu
desenvolvimento.
Por outro lado, o fato de ter altas habilidades em
várias áreas não garante maturidade na área pessoal e/ou social.
O reconhecimento da presença de altas habilidades e
sua estimulação são fatores essenciais para o bom desenvolvimento geral da
criança.
Assim, recomenda-se que os pais ofereçam
alternativas estimuladoras às crianças, levando-os a museus, feiras científicas,
exibições artísticas e permitindo que elas se expressem a respeito.
É interessante que forneçam sempre, à criança,
estimulação visual, auditiva, verbal e sinestésica, bem como um ambiente
desafiador, adequado para a idade em que seu filho se encontra.
Dentre os brinquedos oferecidos à criança, por
exemplo, dar preferência aos que possam ser usados para uma variedade de
atividades, ao invés de objetos monofuncionais.
É importante que a família incentive a associação
da criança de altas habilidades/superdotação com pessoas que tenham interesses
e aptidões semelhantes.
Por outro lado, é importante também, que se
pratique com a criança, o exercício da empatia, da compreensão, da diversidade,
do respeito pelas características individuais das pessoas e das relações
saudáveis entre as diferenças pessoais.
À medida que a criança cresce e vai avançando em
seu desenvolvimento, é interessante que a família participe de suas análises de
alternativas profissionais, bem como das atividades ocupacionais que melhor se
adequem as competências e habilidades diferenciadas que o/a jovem apresenta.
Grande parte das famílias brasileiras não tem
informação sobre a superdotação, além de ter limitada possibilidade de oferecer
à criança com altas habilidades a estimulação de que ela necessita.
A escola e o professor podem em muito auxiliar,
informando e orientando à família quanto aos procedimentos possíveis na
realidade de seu cotidiano.
RECOMENDAÇÕES AOS GESTORES DA
EDUCAÇÃO
Os gestores da Educação têm papel de primordial
importância, já que é a eles que compete a decisão política de construir um
sistema educacional que seja respeitoso e responsivo às necessidades
educacionais especiais dos alunos com altas habilidades/superdotação.
É aos gestores, também, que compete elaborar o
planejamento estratégico que lhes permitirá implementar, no ritmo e na
intensidade possíveis, o preparo dos professores e dos demais profissionais da
Educação, bem como as adaptações curriculares que se mostrarem necessárias.
A escola inclusiva não será implementada somente
com a inserção de alunos portadores de necessidades educacionais especiais em
salas do ensino regular.
Há que se garantir a acessibilidade, que se
adquirir os instrumentos, equipamentos e materiais necessários para o ensino,
que se preparar os professores, que se estabelecer os critérios e normas do
funcionamento inclusivo, tarefas que não são da competência, nem da
possibilidade de ação do professor.
Assim, é essencial que os gestores da Educação
assumam sua parte da responsabilidade nesse processo, executando as ações que
são anteriores às ações dos professores, cujo âmbito de ação e competência
profissional se prioriza ao contexto da sala de aula.
RECOMENDAÇÕES AOS PROFESSORES
Inicialmente, é importante apontar que nenhum
professor precisa apresentar altas habilidades para ensinar alunos que as
apresentam.
O que o professor precisa, primeiramente, é
identificar as áreas de alta potencialidade do aluno, observar como estas estão
sendo utilizadas no contexto escolar, e planejar suas atividades de ensino, de
forma a promover o crescimento de acordo com seus próprios ritmos,
possibilidades, interesses e necessidades.
O trabalho do professor na área das altas
habilidades/superdotação se traduz em desafios
Requer uma postura de facilitador do processo de
aprendizagem, uma vez que as características apresentadas muitas vezes superam
as expectativas previstas.
É importante que esse profissional tenha
flexibilidade na conduta pedagógica e nas relações entre seus alunos, que
possibilite o crescimento de talentos e habilidades oportunizando desafios e
contextos interessantes que motivem a aprendizagem.
É essencial que o aluno com altas
habilidades/superdotação se desenvolva em seu próprio ritmo, aproveitando ao
máximo suas potencialidades e competências, sem ser “subjugado” a um conteúdo curricular que já
domina, que seja estimulado a construir novos conhecimentos, ao mesmo tempo em
que conviva com parceiros da mesma faixa etária, no contexto regular da sala de
aula.
Obrigar o aluno a trabalhar conteúdos que não lhe
constituem desafios de aprendizagem é mantê-lo desmotivado, aborrecido e livre
para desenvolver padrões indesejáveis de relacionamento e de comportamento
escolar.
No dia a dia da escola em muitas situações se torna
necessário ser flexível na utilização do espaço físico, na utilização de
materiais e equipamentos, na organização e reorganização de grupos de
trabalhos, na estruturação de planejamentos e em procedimentos e processos de
avaliação.
Os objetivos da ação pedagógica juntos aos alunos
com altas habilidades/superdotação devem preparar para a autonomia e
independência, desenvolver habilidades, estimular atividades de planejamento,
implementar diferentes formas de pensamento e oferecer estratégias que
estimulem o posicionamento crítico e avaliativo.
Segundo Reynolds e Birch (1982), e Lewis e Doorlag (1991), há seis princípios importantes que podem auxiliar o professor a
oferecer experiências educacionais apropriadas para esse grupo de alunos, no
contexto da sala inclusiva:
1. Estimular a independência de estudo do aluno,
ensinando-o a ser “eficiente e efetivo” nessa tarefa.
Assim, é interessante que o professor estimule o
aluno a ler, a pesquisar, a buscar novas informações em material extra-classe,
de forma que ele aprenda a estudar pesquisando.
Desta forma, o aluno não precisa ficar “amarrado” ao conteúdo regular do plano de
ensino da série ou nível em que se encontra (por ele, muitas
vezes, já dominado),
andando em seu próprio ritmo, ao mesmo tempo em que
se evitam problemas na interação com colegas e mesmo com o professor.
2. Estimular que os alunos utilizem processos
cognitivos complexos, tais como o pensamento criativo, a análise crítica,
análises de prós e contras, etc...
Esse tipo de atividade permite ao aluno exercitar
suas competências de forma construtiva e favorecedora de um desenvolvimento
dentro de seu próprio ritmo.
3. Estimular os alunos a discutirem amplamente
sobre questões, fatos, idéias, aprofundando gradativamente o nível de
complexidade da análise, até culminar em um processo de tomada de decisão e de
comunicação com os demais acerca de planos, relatórios e soluções esperadas a
partir das decisões tomadas.
Este procedimento não só estimula as operações de
análise (reflexão sobre os múltiplos componentes da
realidade enfocada, a identificação de possibilidades alternativas para a
solução de problemas) e de síntese, como também a
organização do pensamento, o raciocínio lógico, o planejamento de ações, a
avaliação de possíveis conseqüências e efeitos das ações planejadas, a comunicação
social das idéias, dentre outras competências.
4. Estabelecer as habilidades de comunicação
interpessoal necessárias para que os alunos trabalhem tranqüilamente com
parceiros de diferentes faixas etárias, e de todos os níveis do desenvolvimento
cognitivo.
O fato de ter altas habilidades, sejam elas as
competências que forem, pode tornar-se impeditivo para a convivência entre
pares, razão pela qual é de grande importância que a interação e a comunicação
interpessoal constituam objetivos de ensino, de igual importância aos demais
conteúdos curriculares.
5. Estimular o desenvolvimento do respeito pelos
demais seres humanos, independentemente de suas características, talentos e
competências.
A criança portadora de altas habilidades pode se
tornar alguém impaciente com pessoas que funcionam em nível ou ritmo diferente
do seu, ou desenvolver um padrão de a elas desqualificar. Isto é prejudicial
para seu desenvolvimento pessoal e social, podendo ter consequências
destrutivas para seu próprio processo de aprendizagem, bem como para a
sociedade.
Assim, tratar do desenvolvimento e da prática do
respeito humano enquanto conteúdo curricular é de importância e relevância
educacional e social.
6. Desenvolver expectativas positivas do aluno
quanto a escolhas profissionais que possam otimizar o uso de seus talentos e
competências. (p. 396).
Lewis e Doorlag (1991) abordam especificamente a questão da
criatividade, a qual “pode
também ser conceituada como a habilidade de gerar soluções novas para problemas
específicos” (p. 397).
Assim, um dos componentes da criatividade é o
pensamento divergente, competência envolvida para a sugestão de várias soluções
para um problema.
Os autores acima citados apontam que segundo
Silverman (1988), há quatro fatores que são importantes para o exercício do pensamento
divergente: a fluência, a flexibilidade, a
originalidade e a elaboração.
Segundo Silverman (1988, p. 276):
• A fluência é a habilidade de
gerar muitas respostas.
• A flexibilidade é a
habilidade de mudar a forma, mudar a informação, ou mudar a perspectiva do
olhar para a realidade focalizada.
• A originalidade é a habilidade
de gerar respostas novas.
• A elaboração é a habilidade
de cercar uma ideia com detalhes.
Para estimular o
desenvolvimento e a utilização do pensamento criativo, o autor sugere que o
professor use de estratégias tais como:
• Atividades do tipo “tempestade de ideias”, ou seja, estimular que o grupo apresente muitas
possíveis soluções para o problema.
• Estimular cada aluno a
apresentar o maior número possível de possibilidades, de forma a desenvolver
sua flexibilidade intelectual.
• Ensinar habilidades de
debate, encorajando os alunos a discutirem sobre assuntos de sua própria escolha.
• Estimular que cada aluno
defenda o ponto de vista do professor, o ponto de vista de outros colegas, o
ponto de vista dos pais, etc...
• Estimular que os alunos tomem
a iniciativa de apresentar projetos, incentivando e apoiando seu
desenvolvimento e realização.
• Estimular que cada aluno
apresente sugestões inéditas de possíveis soluções para os problemas.
• Fazer sessões de “ideias malucas”, onde somente noções incomuns podem ser discutidas.
• Estimular os alunos a
escreverem “scripts” para programas de rádio e de TV, e a participarem
dos referidos programas.
• Estimular, também, que cada
aluno amplie cada vez mais o detalhamento das soluções que tenha proposto.
• Estimular que alunos que
apresentam altas habilidades em matemática, por exemplo,
criem quebra-cabeças, e outros
instrumentos que exijam o raciocínio.
Outro componente ligado ao pensamento divergente é
a capacidade de resolução de problemas.
Resolver problemas é uma habilidade que se
manifesta não só na sala de aula, com conteúdos acadêmicos, mas também nas
diferentes situações do cotidiano.
A resolução de problemas envolve operações mentais
distintas, tais como cognição, memória, produção divergente, produção
convergente e avaliação.
É importante que o professor estimule, nos alunos,
de maneira geral, o exercício dessas operações, nas atividades do cotidiano da
sala de aula.
Algumas alternativas pedagógicas são facilitadoras
para a docência e se tornam muito estimulantes para o aluno com altas
habilidades/superdotação, nas salas de recursos por meio do Projeto de
Interesse do Aluno.
Projetos de Interesse do Aluno
• Planejamento de atividades de
enriquecimento a serem desenvolvidas em paralelo com a programação normal da
série da qual se insere o aluno.
• Elaboração de atividades
diferenciadas e enriquecidas.
• Estímulo à participação do
aluno na elaboração de projetos de investigação ou de pesquisas de acordo com
seus interesses particulares ou suas habilidades.
• Desenvolvimento de atividades
culturais e científicas como Feiras, Mostras e Semanas de Estudo, destinadas a
apresentação de temas desenvolvidos durante um trabalho escolar.
• Elaboração de fichas de
conteúdos estimulantes, desafiadores e curiosos para estudos independentes a
todo o grupo escolar.
Administrando a diversidade em salas
de aula inclusivas
Nos textos anteriores já se falou sobre esta
questão, mas acreditamos que nunca é demais abordá-la!
Para que um professor possa administrar com
competência seu ensino, ele precisa primeiramente conhecer seus alunos.
Sabemos que é prática comum, em nossa realidade
educacional, que se faça o plano de ensino antes do início das aulas, antes de
se vir a conhecer os alunos.
Embora este procedimento seja praticamente
obrigatório, dadas as exigências burocráticas que cercam o trabalho do
professor (prazos de entrega de documentos, principalmente), não é segredo para ninguém que ele carece de sustentação lógica, já que
um plano de ensino só faz sentido se ele for desenvolvido para alguém que se
conhece
Se não conheço o aluno que vou
receber, porque planejar o ensino?
Vou ensinar para quem? Como vou
ensinar?
Que estratégias pedagógicas serão
mais eficazes para cada um dos alunos que ainda nem conheço?
Entretanto, esta é a realidade de nosso cotidiano
escolar.
O que recomendamos é que isto passe a ser discutido
em cada comunidade, e que seja definitivamente modificado operacionalmente
Enquanto isto se procede, entretanto, sugerimos ao
professor que após as primeiras semanas de aula, à medida que vá conhecendo os
padrões de aprendizagem de cada aluno, comece a promover ajustes em seu plano
de ensino, de forma a poder atender ao conjunto de necessidades que venha a
perceber no conjunto de seus alunos.
Assim, ele terá um plano de ensino genérico, e
planejamentos individualizados para alunos que assim o necessitarem.
O professor deve observar atentamente as
competências e habilidades de cada aluno seu, bem como as necessidades
peculiares de cada um.
Que seja criativo.
Que trabalhe com cantinhos de aprendizagem,
experimente agrupamentos e re-agrupamentos de alunos, que estimule que cada um
se desenvolva no ritmo e direção de sua opção, que dê suporte para o processo
individual de desenvolvimento dos alunos e garanta espaço acadêmico para que os
alunos possam nele circular à medida de sua necessidade, interesse e vontade.
Professor: Não tema o aluno com altas
habilidades.
E também não o tolha.
Faça dele seu aliado no processo de busca de
compreensão da realidade, em cada uma das linguagens científicas com a qual
você estiver com ele trabalhando (compreensão matemática da realidade,
compreensão física da realidade, compreensão histórica da realidade,
compreensão geográfica da realidade, compreensão biológica da realidade,
etc...)
Estimule, desafie, dê suporte, vibre com ele, seja
seu aliado, seu cúmplice e seu amigo no processo de construção do conhecimento.
Só assim você estará sendo verdadeiramente profissional.
Como vê, ensinar é uma coisa só: é partir daquilo
que o aluno real traz consigo, para a sala de aula, e caminhar para a ampliação
de seu conhecimento, utilizando as vias de acesso que o aluno tiver mais bem
desenvolvidas.
O processo é sempre o mesmo.
O como realizá-lo, entretanto, depende da
caracterização de cada um.
Fonte: Projeto Escola Viva - Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Especial
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