Vega, a quinta estrela noturna que mais brilha, irradia sobre
nós durante o início deste mês e talvez seja o astro mais importante no céu
depois do Sol.
Mas como exatamente se pronuncia o
nome dela?
VÉ-ga ou VÊ-ga?
Em julho de 2006, Tony Flanders, do site Sky & Telescope, abordou a questão:
“Em 1941, a American Astronomical
Society (AAS) formou um comitê composto por Samuel G. Barton, George A. Davis Jr. e
Daniel J. McHugh para
consultar astrônomos, estudiosos árabes e conferencistas de planetários a fim
de elaborar uma lista das pronúncias desejadas para os nomes das estrelas e
constelações em geral.
O relatório final, que foi
adotado pela AAS, foi
publicado na página 12 da Sky & Telescope de junho de 1943”.
Eles decidiram que a pronúncia de Vega deveria
ser VÉ-ga.
Isso fez sentido porque, há séculos, ela era conhecida como Wega e se falava WÉ-ga, que
significa águia descendo em árabe.
Mais tarde, o W evoluiu
para um V, mas a
pronúncia permaneceu a mesma:
VÉ-ga.
Em 1966, quando era um astrônomo amador iniciante, eu possuía um
planisfério Edmund que incluía um manual de instruções com um guia de
pronúncias que seguia os padrões da AAS.
COMO É QUE É?
No
entanto, em algum momento, Vega virou (principalmente)
VÊ-ga, deixando a mim e minha turma em minoria.
Hoje em dia, o dicionário online Merriam-Webster fornece ambas as pronúncias,
enquanto o American Heritage Dictionary lista a pronúncia VÉ-ga.
Reconhecendo que a linguagem evolui, digo aos recém-chegados ao
hobby que ambas estão corretas.
Tenho
um palpite de que a mudança para VÊ-ga, pelo
menos dos EUA, ocorreu por vários motivos.
Primeiro, o país tem uma população considerável cuja primeira
língua é o espanhol.
Em espanhol, o som “e” é
pronunciado “ay” e não “ee”.
Pense em Las Vegas.
Na verdade, Vega é um
sobrenome espanhol muito comum e significa “prado” ou “planície fértil”.
Mas também suspeito que o carro Chevrolet Vega tem algo
a ver com tudo isso.
Nomeado
em homenagem à estrela e com o nome pronunciado
VÊ-ga, o carro foi um grande sucesso no início dos anos 70, até que
os proprietários descobriram que o tanque de gasolina era propenso a incêndios,
o automóvel enferrujava rápido e as peças do motor derretiam.
A ascensão e queda do Vega dos alegres comerciais de TV à infâmia marcou seu nome (e pronúncia) na memória do público.
Aproveitando o assunto, no filme Contato, de 1997, Jodie Foster interpreta a Dra. Ellie Arroway, que recebe uma mensagem de seres sencientes de um planeta localizado ao redor de Vega, pronunciada VÊ-ga (ugh!) ao longo do filme.
Para se aprimorar nos nomes das estrelas, consulte este guia de pronúncia de estrelas e constelações ou ouça
esta versão em áudio.
Seja como for, Vega é uma estrela branca, brilhante e radiante.
Com uma declinação
de quase +39°, brilha diretamente sobre quem vive na latitude 39° norte.
Uma rápida olhada revela que
várias grandes cidades compartilham esta sorte: Topeka, no Kansas; Dover, em Delaware; Baltimore, em Maryland;
Cincinatti, em Ohio; e Kansas City, no Missouri
Da minha localização, a 47° norte, ela passa ao sul do Zênite, mas perto o suficiente para exigir uma séria torção de pescoço em seu ponto culminante.
Para muitos, Vega é o
prenúncio do verão no frio extremo do inverno, brilhando entre os galhos nus no
céu do nordeste por volta da 1h da manhã, horário local, no final de fevereiro.
Adoro vê-la subir durante minhas caminhadas noturnas.
Quando criança, eu a via escalar o quintal nevado do vizinho
pela janela do meu quarto quando deveria estar dormindo.
PROMESSA VEGANA
Para
quem vive em Duluth, Minnesota, onde os invernos podem ser persistentes, Vega traz esperança.
Também está intrinsecamente ligada ao verão, como a estrela mais
brilhante do expansivo asterismo do Triângulo de Verão.
Da minha latitude, Vega surge
primeiro, seguida por Deneb e Altair nesta
ordem.
O trio enquadra um dos segmentos mais brilhantes e espessos da
Via Láctea.
Dos céus poluídos pela luz da latitude média, pode ser a única
seção da Via Láctea que a maioria das pessoas consegue ver.
No
outono, Vega é a primeira do trio a se inclinar para o oeste. Embora sua
declinação ao norte mantenha a estrela à vista por muitos meses, detesto vê-la
partir.
Se você mora ao norte da latitude 51°, Vega nunca sai de vista porque é circumpolar e nunca se põe.
Me pergunto se alguém já viu isso em Londres, na Inglaterra, onde a estrela paira a apenas ½° acima, diretamente ao norte, no Nadir.
Este daguerreótipo de Vega tirado em 1850 é a
primeira imagem de uma estrela noturna
Os picos de difração, uma característica associada a telescópios
que possuem obstruções secundárias, teriam sido causados pelo diafragma da
câmera.
Na noite de 16 para 17 de julho de 1850, Vega se tornou
a primeira estrela depois do Sol a ser fotografada.
James Adams Whipple e William Bond usaram o
refrator de 15 polegadas do Harvard College Observatory para
focalizar a luz de Vega em uma
folha de cobre banhada a prata sensibilizada com vapores de iodo, expondo por
cerca de 20 minutos
A expectativa que eles devem ter sentido ao ver a imagem se
desenvolvendo sobre os vapores quentes de mercúrio deve ter sido tão intensa
quanto a nossa espera pelo download das primeiras fotos do Telescópio Espacial James Webb.
NOVAMENTE A PRIMEIRA!
Em
agosto de 1872, o astrônomo amador Henry Draper selecionou Vega como a primeira
estrela noturna a ter seu espectro fotografado.
A imagem de Draper revelou as clássicas linhas de absorção de hidrogênio conhecidas
como série de Balmer.
Essa sequência de linhas em zonas, ou raias, resulta quando os
elétrons de um átomo de hidrogênio localizado em níveis de energia mais altos
caem para o nível 2, o segundo mais próximo ao núcleo.
Cada gota que desce libera um fóton de energia.
Um elétron que mergulha do nível 3 para o nível 2 cospe um fóton
de luz vermelho-escuro – a familiar linha H-alfa
Uma queda de 4 para 2 produz uma linha H-beta; 5 para 2, H-gama;
e assim por diante.
Espectroscopistas amadores registram
rotineiramente a série de Balmer em Vega e outras
estrelas de sua classe espectroscópica. Com um instrumento visual, como o Star Spectroscope fabricado pela Rainbow Optics, as linhas espectrais ficam
bastante nítidas na lente ocular.
Embora este modelo não esteja mais disponível, espectroscópios
usados aparecem para vender de tempos em tempos no site Cloudy Nights.
Por uma quantia modesta, você também pode fotografar espectros
estelares com uma câmera DSRL ou mirrorless. Uma coisa é olhar para uma estrela
e saber que ela é feita de plasma quente, mas ver o “código de barras” do
hidrogênio com seus próprios olhos é outra. As linhas proeminentes de Vega a
tornam um ótimo lugar para começar.
Com
base em suas linhas de hidrogênio, Vega foi
usada para identificar e classificar estrelas semelhantes ao seu tipo,
incluindo Sirius, Altair e Fomalhaut.
Com base no espectro simples e luz constante que ela possui,
serve desde 1943 como uma das estrelas estáveis padrão pelas quais outras são
classificadas.
Vega é uma estrela branco-azulada de classe A0 da sequência principal que é 2,1 vezes mais maciça que o Sol e cerca de 2,5 vezes maior, localizada a 25 anos-luz de distância.
Tanto sua proximidade quanto sua luminosidade (40 vezes maior que o Sol) fazem
dela umas das estrelas mais brilhantes do céu. Ela brilha a uma magnitude de
+0,03 e por anos foi o padrão de referência para o ponto de magnitude zero
usado para calibrar a escala de magnitude em dispositivos fotoelétricos.
ANEL 2.0
Como
o Sol, Vega queima
hidrogênio em seu núcleo, mas por ser mais quente e maciça, esgota suas
reservas de energia mais depressa.
Atualmente, a estrela tem cerca de 455 milhões de anos. Vega deixará de ser a sequência principal em cerca de 500 milhões de
anos e se tornará uma gigante vermelha antes de expelir sua atmosfera e evoluir
para uma anã branca cercada por uma nebulosa planetária.
A próxima vez que você observar a Nebulosa do Anel (M57), imagine Vega como sua substituta muito depois do atual Anel se expandir e dissipar-se até não ser mais identificável.
Estrelas jovens costumam girar rapidamente, e Vega não é exceção, dando um giro em seu eixo a
cada 12,5 horas.
Compare isso com o nosso preguiçoso Sol, que leva em média 27
dias.
Objetos gasosos, como estrelas, vergam enquanto giram, então a
rápida rotação de Vega
estendeu-a em forma oval, chamada esferoide oblato.
Seu diâmetro equatorial é 2,82 vezes o do Sol, com um diâmetro
polar de 2,36 solar, uma diferença de 19%.
Do nosso ponto de vista terrestre, olhamos quase diretamente
para um de seus pólos.
O formato de Vega, combinada com sua rotação rápida, aquece as regiões polares e
esfria a zona equatorial, tornando os pólos mais brilhantes que o equador, um
fenômeno conhecido como escurecimento por gravidade.
A diferença de temperatura é significativa: 9.700°C (17.500°F) nas regiões polares versus 7.900°C (14.200°F) no equador.
PLANETA OU CATÁSTROFE?
Embora
Vega talvez hospede um planeta que ainda não foi confirmado do
tamanho de Netuno, temos provas definitivas de um disco de detritos empoeirados
ao redor da estrela provavelmente composto por um amálgama de silicato e grãos
carbonáceos.
Este anel de cascalhos pode ser o lar de protoplanetas que estão
passando pelo difícil processo de se tornarem planetas completos ou que estão
enfrentando as consequências poeirentas de uma grande e recente colisão.
O Satélite Astronômico Infravermelho (IRAS) detectou um excesso de emissões
quentes e infravermelhas ao redor da estrela em 1983, posteriormente
fotografadas pelo Telescópio Espacial Spitzer
da NASA.
Devo salientar que a descoberta foi mais uma façanha para Vega – a primeira estrela cercada por um disco de poeira quente a ser descoberta.
Em 12.000 AC, Vega era uma Estrela Polar e será
novamente por volta de 13.700 DC.
As forças gravitacionais exercidas pelo Sol e pela Lua na
protuberância equatorial da Terra fazem com que o eixo gire lentamente, com uma
duração de 26.000 anos.
Neste momento, o eixo polar norte aponta para Polaris, na Ursa
Menor, nossa atual Estrela do Norte.
Mas daqui a 12.000 anos, apontará para Vega, garantindo que a
notoriedade da estrela persista por milênios.
E tem mais.
Daqui a dez ciclos de precessão, ela passará mais perto da Terra
e brilhará mais do que nunca, com uma magnitude -1,4!
Autor: Bob King
Fonte secundária: https://eraoflight.com/
Tradução: Sementes das Estrelas/Mariana Spinosa
https://www.sementesdasestrelas.com.br/2022/09/vega-a-estrela-no-centro-de-tudo.html
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