PAPA PEDE A JOVENS
QUE NÃO SEJAM 'COVARDES' E 'SAIAM ÀS RUAS'; VEJA ÍNTEGRA DO DISCURSO
Na cerimônia
para a vigília da Jornada Mundial da Juventude, Francisco fez referências ao
futebol e às manifestações populares e pediu que a juventude 'jogue no ataque'
Luciana
Nunes Leal - O Estado de S. Paulo
Na última
noite da Jornada Mundial da Juventude, neste sábado, 27, o papa Francisco fez
um discurso repleto de expressões informais, referências ao futebol e às
manifestações populares, não só no Brasil, mas em vários países.
O papa pediu
que os jovens não se submetam a modismos, sejam autênticos e que "suem a camisa" na vivência da religião.
Em um dos
vários momentos em que improvisou, pediu aos jovens que "joguem sempre no ataque" e que "saiam às ruas como fez Jesus".
"Não
sejam covardes",
disse, clamando que os jovens sejam os protagonistas das mudanças sociais e
políticas no mundo.
Veja também:
Marcos de
Paula/AE
Pontífice
deixou de lado o texto previamente preparado em diversos momentos
"Hoje tenho certeza que a semente está caindo numa terra
boa, sei que vocês querem ser um terreno bom, não querem ser cristãos pela
metade, nem engomadinhos, nem cristãos de fachada, mas sim autênticos.
Tenho a certeza de que vocês não querem viver na ilusão de uma
liberdade que se deixe arrastar pelas modas e conveniências do momento", disse.
O pontífice
pediu que os jovens "sejam
os verdadeiros atletas de Cristo" e disse que Jesus oferece algo "muito superior" à Copa do Mundo.
"Jesus nos pede que sigamos por toda a vida, pede que
sejamos seus discípulos, que
'joguemos no seu time'.
Acho que a maioria de vocês ama os esportes.
E aqui no Brasil, como em outros países, o futebol é uma paixão
nacional.
O que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time?
Deve treinar e muito!
Também é assim na nossa vida de discípulos do Senhor", pregou
"Queridos amigos, não se esqueçam: vocês são o campo da fé!
Vocês são atletas de Cristo!
Vocês são construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo
melhor", disse o papa
para os jovens que desde a manhã circulavam pela orla de Copacabana e, do
meio-dia em diante, assistiram a shows de grandes nomes da música católica, como os padres Marcelo Rossi e Fábio de
Melo e a banda Rosa de Saron.
Assim como a
missa de encerramento, prevista a manhã de domingo, a vigília foi transferida
de Guaratiba, na zona oeste, para a Praia de Copacabana, na zona sul, por causa
das chuvas, que transformaram o terreno onde inicialmente seriam realizados os
dois últimos eventos da Jornada em um grande lamaçal.
"Quando nosso coração é uma terra boa que acolhe a palavra
de Deus, quando se 'sua a
camisa' procurando viver como cristãos,
nós experimentamos algo maravilhoso: nunca
estamos sozinhos",
disse o
pontífice.
Em
referência ao nome como era chamado o terreno que abrigaria a vigília em
Guaratiba, Campus Fidei (Campo da Fé), o papa lembrou a parábola do semeador,
em que sementes caem em terrenos pedregosos e não germinam,
enquanto
outras caem em terras férteis.
Francisco
usou expressões familiares aos jovens para traduzir os princípios religiosos.
Antes, pediu
que os jovens sejam missionários na construção da uma nova Igreja.
"Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo!
Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e nos
oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna.
Jesus porém nos pede que treinemos para estar 'em forma', para
enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, testemunhando nossa fé", afirmou.
Mais uma vez
o pontífice mostrou a preocupação em falar de temas da atualidade que chamam
atenção da juventude ou que têm os jovens como protagonistas.
Ressaltou,
porém, a parcela de responsabilidade de cada um no esforço por mudança.
"Acompanhei atentamente as notícias a respeito de muitos
jovens que, em tantas partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar o
desejo de uma civilização mais justa e fraterna.
Mas, fica a pergunta: por onde começar, quais são os
critérios para a construção de uma sociedade mais justa?
Quando perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar
na Igreja, ela respondeu: você e eu!"
Francisco
pediu empenho para construção de uma Igreja grande, "que possa acolher toda a
humanidade" e não
apenas "uma capelinha,
onde cabe apenas um grupinho de pessoas".
Veja íntegra do
discurso:
"Queridos
jovens,
Acabamos
recordar a história de São Francisco de Assis.
Diante do
Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz:«Francisco, vai e repara a minha casa».
E o jovem
Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamada do Senhor: repara a minha casa.
Mas qual casa?
Aos poucos,
ele percebe que não se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito
de pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja;
tratava-se
de colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que
transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo.
Também hoje
o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja.
Também hoje
ele chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja, para serem
missionários.
Como?
De que modo?
Partindo do
nome do local em que nos encontramos - Campus Fidei, Campo da Fé - pensei em
três imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser um
discípulo missionário: a primeira, o campo como lugar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento;
e a terceira, o campo como canteiro de obras.
1. O campo como lugar onde se semeia.
Todos
conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo lançando
sementes; algumas caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio de
espinhos e não conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão
muito fruto (cf. Mt 13,1-9).
Jesus mesmo
explica o sentido da parábola: a semente é a Palavra de Deus que é lançada nos
nossos corações (cf. Mt 13,18-23).
Queridos
jovens, isso significa que o verdadeiro Campus Fidei é o coração de cada
um de vocês, é a vida de vocês.
E é na vida
de vocês que Jesus pede para entrar com a sua Palavra, com a sua presença.
Por favor,
deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, e nela possam
germinar e crescer.
Jesus nos
diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em meio
aos espinhos não deram fruto.
Qual terreno somos ou queremos ser?
Quem sabe
se, às vezes, somos como o caminho: escutamos o Senhor, mas na vida não muda nada, pois nos deixamos
aturdir por tantos apelos superficiais que escutamos; ou como o terreno pedregoso: acolhemos Jesus com entusiasmo, mas
somos inconstantes e diante das dificuldades não temos a coragem de ir contra a
corrente; ou somos como o terreno com os espinhos: as coisas, as paixões
negativas sufocam em nós as palavras do Senhor (cf. Mt 13, 18-22).
Mas, hoje,
tenho a certeza que a semente está caindo numa terra boa, sei que vocês querem
ser um terreno bom, não querem ser cristãos pela metade, nem "engomadinhos", nem cristãos de fachada, mas sim
autênticos.
Tenho a
certeza que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade que se deixe
arrastar pelas modas e as conveniências do momento.
Sei que
vocês apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido
para a vida.
Jesus é
capaz de oferecer-lhes isto.
Ele é o «caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6)!
Confiemos
n’Ele.
Deixemo-nos
guiar por Ele!
2. O campo como lugar de treinamento.
Jesus nos
pede que o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que "joguemos
no seu time".
Acho que a
maioria de vocês ama os esportes.
E aqui no
Brasil, como em outros países, o futebol é uma paixão nacional.
Ora bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em um
time?
Deve
treinar, e muito!
Também é
assim na nossa vida de discípulos do Senhor.
São Paulo
nos diz: «Todo atleta se impõe todo tipo de
disciplina.
Eles assim procedem,
para conseguirem uma coroa corruptível.
Quanto a
nós, buscamos uma coroa incorruptível!» (1Co 9, 25).
Jesus nos
oferece algo muito superior que a Copa do Mundo!
Oferece-nos
a possibilidade de uma vida fecunda e feliz e nos oferece também um futuro com
Ele que não terá fim: a
vida eterna.
Jesus,
porém, nos pede que treinemos para estar "em forma", para enfrentar,
sem medo,
todas as situações da vida, testemunhando a nossa fé.
Como?
Através do
diálogo com Ele: a oração,
que é diálogo diário com Deus que sempre nos escuta. através dos sacramentos,
que fazem crescer em nós a sua presença e nos conformam com Cristo; através do
amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do perdoar, do acolher, do
ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar ninguém.
Queridos
jovens, que vocês sejam verdadeiros "atletas de Cristo"!
3. O campo como canteiro de obras.
Quando o
nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus,
quando se "sua a camisa" procurando viver como cristãos, nós experimentamos
algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de
irmãos que percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja, mais ainda,
tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas da história.
São Pedro
nos diz que somos pedras vivas que formam um edifício espiritual (cf.
1Pe 2,5).
E, olhando
para este palco, vemos que ele tem a forma de uma igreja,
construída
com pedras, com tijolos.
Na Igreja de
Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua Igreja;
e não como uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas.
Jesus nos
pede que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a humanidade,
que seja casa para todos!
Ele diz a
mim, a você, a cada um: «Ide
e fazei discípulos entre todas as nações»!
Nesta noite,
respondamos-lhe: Sim,
também eu quero ser uma pedra viva;
juntos
queremos edificar a Igreja de Jesus!
Digamos
juntos: Eu quero ir e ser
construtor da Igreja de Cristo!
No coração
jovem de vocês, existe o desejo de construir um mundo melhor.
Acompanhei
atentamente as notícias a respeito de muitos jovens que, em tantas partes do
mundo, saíram pelas ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa
e fraterna.
Mas, fica a
pergunta: Por onde
começar?
Quais são os critérios para a construção de uma sociedade mais
justa?
Quando
perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja,
ela
respondeu: você e eu!
Queridos
amigos, não se esqueçam: Vocês
são o campo da fé!
Vocês são os
atletas de Cristo!
Vocês são os
construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor.
Elevemos o
olhar para Nossa Senhora.
Ela nos
ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu "sim" a Deus:
«Eis aqui a
serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lc1,38).
Também nós o
dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em
mim segundo a Tua palavra.
Assim seja!"
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